Diferenças entre Trabalhar nos Estados Unidos e Brasil (para Designers Brasileiros)

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Diferenças entre Trabalhar no Estados Unidos e Brasil (como designer brasileiro) | Des1gnON

Trabalhar nos Estados Unidos e Brasil como designer definitivamente não é a mesma coisa. Envolve saber como lidar culturamente e profissionalmente neste dois mercados competitivos, porém bem diferentes.

Lingua? Talento? Certificação? Geralmente são esses os medos e obstáculos que o designer brasileiro acha que vai enfrentar quando vem tentar a vida profissional para trabalhar nos Estados Unidos.

No entanto, existem algumas diferenças chaves que o designer deve aprender ao trabalhar nos Estados Unidos.

Para quem não sabe, moro nos Estados Unidos há mais de 3 anos e, sempre muito atento ao mundo além do meu laptop e mesa digitalizadora, vejo e lido com muitos designers brasileiros iniciando a carreira por aqui.

Todavia, na maior parte das vezes, percebo que há uma dificuldade deste profissional em suceder no mercado americano.

Não por falta de talento e gana – pelo contrário; nós, brasileiros, somos extraordinários nesses quesitos!

Os problemas – ainda bem! – são todos de ordem prática e cultural. E, atentos a eles, acredito piamente que meus compatriotas poderão ter uma carreira fruitífera na “terra do Tio Sam”.

Diferenças entre Trabalhar no Estados Unidos e Brasil - Des1gnON

Pra ilustrar, seguem 5 situações que traduzem a diferenças entre trabalhar no EUA e no Brasil. Escolhi alguns ditados populares brasileiros e frases populares americanas.


Cada macaco no seu galho [ou] Stay on your lane

Diferente da dinâmica numa agência brasileira – onde por muitas vezes o Diretor de Arte tem que fazer muita coisa além da “direção” — por aqui ninguém joga em todas as posições; os papéis são bem definidos.

Isso parece um ponto positivo (e em muitas maneiras o é), no entanto é uma armadilha onde o designer brasileiro sempre tropeça.

Cuidado pra não pisar no pé de ninguém ou invadir o espaço de ninguém. Não só pela questão política, mas também pra não acabar respondendo pelo que deveria ser a obrigação de outra pessoa.


Farinha pouca, meu pirão primeiro [ou] Respect my personal space

Ok, talvez o ditado popular que ilustra essa diferença não esteja sendo empregado da melhor maneira. Não quero dar a conotação de que os designers americanos irão te passar a perna. Pelo contrário, acho até que podíamos aprender mais sobre solidariedade com eles.

Cultura do trabalho do dia-a-dia

O que quero dizer é que a cultura de trabalho e business aqui é bastante individualista e impessoal. Em diversos aspectos; alguns deles muito saudáveis, inclusive.

Deixe-me exemplificar o que falo de individualista: por aqui não existe “ficar depois do horário”, por exemplo.

Não há a preocupação tão comum do trabalhador de “agradar” o patrão/cliente.

Por que?

Acredito que é uma questão tanto cultural de quem lidou com o fim da escravidão de maneira menos “pra debaixo do tapete”, como também por conta de um mercado de trabalho muito mais aquecido, que permite ao trabalhador não ter que temer pela sua vida se aquele trabalho não gerar frutos.

Eis um caso real: ao ser perguntado se não ia finalizar um job praticamente pronto, já ouvi um funcionário responder “Não. Já deu 17:00. Se eu finalizar agora, o que vou ter pra fazer amanhã?

Não parece algo impensável que nunca sairia da boca de um designer brasileiro?

Pois é. Aqui é rotineiro. O americano não se dobra pro relógio.

E não é uma questão de pagar hora-extra – geralmente o dobro do valor de hora normal – pois paga-se tranquilo. Eles, simplesmente, não aceitam ter que trabalhar além do seu horário.

Porém, não espere colher-de-chá quando chegar atrasado – e você chegará atrasado quando começar a ficar trabalhando muito além da conta; pode confiar. É chamado hora-extra exatamente por esse motivo; é “extra”. Bônus. Opcional. Isso não te deixará de fora do mais importante para eles: o dia-a-dia de 9h às 5h.

Em suma, os brasileiros tem dificuldade em se adaptar a essa cultura de trabalho profissional onde nem um dos lados está muito disposto a ir além do esperado. Faça bem o seu e com o tempo te valorizarão.



Dinheiro (não) fala todas as línguas [ou] Time is money, so don’t waste mine

Nossa herança cultural mercantil portuguesa nos faz sempre “jogar o preço pra cima” porque sabemos que o cliente vai tentar jogar o preço pra baixo.

O valor real e honesto de um serviço

Sabe o que vai acontecer se você fizer isso com um americano quando negociando um job?

Se ele julgar o preço alto demais pra ele, ele simplesmente vai botar sua proposta de lado e buscar outra que caiba no bolso dele.

Os americanos tem um respeito muito grande pelo quanto você diz que vale seu produto/serviço. Se você fala que é X, ele não vai tentar pechinchar e negociar pra que você o baixe pra Y. Ele simplesmente vai sair da mesa de negociação e você ficará sem o job.

Conselho para Freelancers e também para Diretores de Arte como eu: faça um diligente cálculo de quanto lhe custará o serviço, sem tentar salvar a lavoura num só job.

Faça ele bem, que a re-ocorrência de trabalhos com esse (e outros clientes que virão por conta dele) irão lhe salvar a lavoura.

O nome do jogo no mercado daqui é “constância

Infelizmente, o designer brasileiro não se atenta a isso e acaba afastando clientes e agências, pois por aqui não se gasta a nota que se gasta aí.

Alguns trabalhos que fiz no Brasil por 2 milhões, aqui são feitos, se tanto, por 100 mil.

Não existe aquele clássico papo de “quero o melhor papel que tiver”. É tudo muito mais descartável. Não se guarda o material pra usar em outros eventos. O cliente só precisa que o backdrop esteja ali, ilustrando e colocando a marca em evidência. Depois, tchau e benção; prontos para a próxima.

Então, não faça joguinhos. Não cobre acima do preço achando que vai negociar, nem abaixo para ganhar o job. Deixe a força do seu trabalho falar e cobre exatamente o que é necessário pra que aquele projeto seja feito e os profissionais pagos.


Relaxa e goza ou trust the process

O designer brasileiro está acostumado com gráficas e fornecedores “de confiança”. Aquelas pessoas que você conhece por nome e se desdobram pra você. Aqui isso não existe; lembra o que falei na dificuldade #2?

E pior, você inevitavelmente vai ter que se virar com serviços online como Vistaprint, MooNextdayflyers.com, onde o atendimento ao cliente é na maioria das vezes feito por inteligência artificial e dá uma raiva da peste não poder falar com um humano pra dirimir as dúvidas e inseguranças daquele site pouco explicado.

Só que… guess what?

Na maior parte das vezes funciona e o produto chega com uma qualidade impressionante.

É a modernidade, amigo. E se não der certo também, é Estados Unidos, e o reembolso tá sempre aí e de fácil acesso, mesmo com os robozinhos te atendendo.

Last but not least, a última diferença entre trabalhar nos Estados Unidos e Brasil como designer…


Você tira o Brasileiro do Brasil, mas não tira o Brasil do Brasileiro [ou] Read the room, pal!

O criativo (das letras ou das artes) que não imerge totalmente na cultura americana, vai não apenas falhar em todos os itens acima, como também vai anular o que ele tem de melhor: seu talento.

Mergulhe de cabeça na cultura gringa

Seja você o estagiário ou o diretor de arte, é necessário uma imersão total na cultura americana o quanto antes.

Deixa o Faustão de lado; acompanhe as séries deles. Esquece o Grêmio (confesso que esse ainda não consegui), assista futebol americano. Adeus influencers de instagram, Kardashians na veia. Entrar na cabeça deles é o único jeito de entrar no coração deles. E vice-versa.

Isso é vital não só para te ajudar a vencer todas as dificuldades citadas anteriormente nesse artigo — no dia-a-dia de um office; mas também porque se você não o fizer, aquilo que te trouxe até aqui, o seu talento visual, será completamente anulado.

Eu mesmo demorei pra superar isso.

Como diretor de arte no Brasil, sempre fiquei atento às questões práticas não só de orçamento, quanto às questões de leis e normas que regem o mercado.

Limitava meu pensamento ao que sabia ser “fazível”.

Por exemplo: para que pensar em coisas mirabolantes se o budget não permite? Para que pensar em ideias que desrespeitam a lei do consumidor? Minha criação não era totalmente livre; partia de mil obstruções.

Aqui nos EUA o “fazível” é diferente

Aqui você pode citar e até mostrar marcas concorrentes nas suas peças publicitárias, por exemplo.

Lembra daquela clássica propaganda da Pepsi onde o garotinho coloca uma lata de Coca-cola para ficar mais alto e alcançar o botão de Pepsi da máquina de refri? Isso é algo que a lei no Brasil jamais iriam permitir! Mas aqui parece que até gostam…

A questão do orçamento, idem.

Embora comparativamente no Brasil se gaste mais na qualidade dos materiais, os clientes aqui estão dispostos a apostar nas ideias mais caras caso eles julguem que elas dêem retorno para a marca deles.

Nos Estados Unidos você não vai ouvir o clássico “adorei! Mas e se a gente tirasse isso, isso, isso e isso?”, que rola no Brasil e descaracteriza tudo que há de “inovador” e “fora-da-caixa” das suas peças.

Percebe como o não-entendimento das peculiaridades que regem o mercado publicitário americano limita nossa criação e só vivendo e notando essa cultura diferente, podemos explorar o máximo do nosso potencial?”


Conclusão

O design é intimamente ligado às referências culturais de quem o cria e consome.

Não estou falando para esquecer o Brasil. É ele nosso berço, nosso DNA cultural!

Mas estando em solo americano, trabalhando para eles no nosso caldeirão de referências, temos que botar apenas um tempero brasileiro.

A base do alimento é americana. Aprenda a saboreá-lo verdadeiramente e tirar dele o máximo de suco possível, que sua vida profissional será bem mais cheia de sabor.

Ou, para ficar nas frases americanas: ENJOY!

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2 comments
  1. A diferença e dificuldade das linguas
    acarreta em problemas de entendimento , por isso devemos ler todo o contexto para poder ter um bom entendimento e com as dicas sempre facilita.

  2. Ola,

    Adorei matéria, foi esclarecedora.
    Não basta falar fluentemente o idioma, tem que incorporar os costumes do local sem perder a essência brasileira.

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